CONVITE

TENHA O SUFICIENTE!

APAIXONE-SE suficientemente por você, pelas pessoas, pelo o que você faz... apaixone-se pela vida!

TENHA CURIOSIDADE suficiente para aprender mais sobre as coisas que poderão fazer você usar e ampliar suas habilidades...

CONTRIBUA suficientemente com o mundo, através de quem você é e do que você faz...

DETERMINE-SE suficientemente a AGIR e a buscar resultados...
...SUFICIENTEMENTE EXCELENTES!!!

A CAVERNA

DE CADA UM
Erika Figueira

Um dia a caverna cansou-se de apenas ecoar e colocou a boca no trombone: “Vocês querem me confundir! O que que é isso, gente? Dá para alguém me explicar?”

E ficou todo mundo sem saber do que ela falava. (Falava? Desde quando caverna fala? Deixa pra lá...) Mas, pensando bem, por que uma caverna não falaria se nossos fantasmas, recordações, elucubrações, sonhos, devaneios, expectativas - e outras coisas mais que só existem nos humanos - falam sem parar conosco, quando não falam de nós ? E olha que eles nem existem de fato... são puros produtos da mente. As cavernas não. Elas estão lá. Poderosas. Tocáveis. Absolutas. Podem falar sim! Quem tem mente sabe disso.

Há muito tempo a caverna se perguntava o porquê que um humano, que tem o mundo todo ao seu redor, procura uma caverna. Não que ela se incomodasse com isso, já que ela, como ser rochoso que é, se basta. Mas a questão é que cada pessoa que lá entrava, agia de uma forma muito diferente uma das outras.

Tinha aquelas que entravam correndo, sem muito cuidado, como se tivessem fugindo de algo. Estas só se aquietavam quando encontravam algum lugar onde pudessem se esconder. "Do que se escondem, afinal?” Não que fosse de sua conta – ela sabia que saber o que nem os humanos entendem seria demais -, mas a intrigava o fato deles parecerem tão fortes e tão frágeis ao mesmo tempo. “Pensando bem, não sou muito diferente. Sou forte, mas se esbarram em algumas de minhas estalactites e estalagmites estou ferrada... Mas, por que eles não enfrentam seus medos? Não que eu queira me comparar... imagine... mas, eu me reconstruo e me reinvento a cada dano que sofro, demore o tempo que demorar... A minha fragilidade acaba onde minha força surge; a minha força é continuada na minha persistencia.”

(Ai... como podem ser cruéis as verdades das cavernas...)

Algumas destas pessoas saiam de lá assim que algo lá fora mudasse. Ou o dia amanhecia, ou o barulho desaparecia ou a tempestade passava. Bem... estas eram as percepções da caverna. Algo lá fora precisava mudar para que elas, escondidas, tomassem a coragem de ter coragem (ou atitude? “Sei lá... isso é com cada um”, dizia ela). Seja como for, saiam.

Outras, no entanto, agiam de forma bem diferente. Entravam e pareciam “esquecer-se” de sair. Iam dando um jeito aqui, ali, e ficando... ficando. Podia estar o dia mais lindo e calmo lá fora, elas pareciam esquecer-se da vida fora da caverna. A caverna tornava-se o tudo e o todo delas. O medo era de si. Morriam de inanição, pálidas como a lua durante o dia.

Haviam aquelas pessoas que entravam na caverna com cuidado. Parecia que a razão do medo estava lá dentro, e não lá fora. Olhavam, olhavam, davam um passo de cada vez, sempre atentas. “Se estão com medo de mim, por que entraram então?”, incomodava-se a caverna. Mas tais pessoas se portavam de forma interessante e diferente das demais. "Não... Não me temem" - constatou a caverna -. "Temem que eu as teme". Na verdade, estavam curiosas. A vida lá dentro despertava-lhes a vontade de conhecer algo mais. O medo de entrar na caverna lhes parecia menor do que o medo de não conhecê-la. O medo era-lhes bem aproveitado. Ao entrar em contato com o desconhecido, conheciam-se mais.

(É claro que a caverna sentia-se explorada em alguns momentos, mas, de alguma forma bem que gostava. Afinal, por que ela passaria o tempo todo se modificando, se construindo e se reconstruindo senão para chamar a nossa atenção?) “Vai tirar uma foto ou não vai?”

Infelizmente, algumas levavam mais que fotos e recordações; levavam pedaços da caverna, como se isso lhes fornecesse uma continuidade da experiência. Disso a caverna não gostava! Pensava: "Já não basta o que proporcionei? Minha contribuição deveria ser o estímulo apenas. Por que não se apossam do mais importante? Assim como a coragem e o aprendizado não existem num objeto concreto, pedaços de mim nada podem fazer fora de mim.")

As pessoas deste grupo, no entanto, saiam de lá sempre com algo a mais do que quando entraram.

Esta turma, de modo geral, levava a certeza de que pode-se encontrar o belo em lugares inóspitos. A busca pelo novo a conduzia até o local. O enfrentamento fazia com que entrasse e aproveitasse cada momento. A conquista a tirava de lá.

Não foi preciso ninguém explicar nada à caverna, pois subitamente ela entendeu. A caverna de cada um parece ser o espelho de seu momento.

O bem e o mal estão onde os vemos.

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